Carta de resposta aos artigos, da autoria de José Aguiar

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Criado em segunda, 14 março 2005, 00:00

Ao Senhor Director do PÚBLICO José Manuel Fernandes

Estou chocadíssimo com a visão parcial do artigo publicado pelo Público nº 5467 (Segunda, 14 de Março de 2005) de título «Há dezenas de pistas de aterragem a funcionar sem controlo em todo o país» da autoria de Mariana Oliveira.

 

Choca-me a visão unilateral sobre o tema que revela.

Envio por este meio os argumentos da minha discordância.

Por todo o mundo desenvolvido, USA e Alemanha, apenas por exemplo, existem dezenas de milhares de pistas para uso civil sem guarda à porta, vedações e Director de Aeródromo. Esses países sabem como lidar com a delinquência aeronáutica (por exemplo tendo meios aéreos, de detecção e polícias mais eficazes)!

Dois aviões (um de dia outro de noite) equipados com radar Doppler poderiam controlar TODO o espaço aéreo nacional e até um carrinho de bebes em andamento poderia ser detectado pela nossa FAP se estivesse equipada com este material (já banal) e se o quisesse verdadeiramente fazer.

Existe tecnologia, porque então querer fechar aeródromos e pistas civis ou particulares como solução para a invasão de droga que se alega motivarem? E só motivam droga? Dezenas de aero clubes civis que operam nessas pistas e que fazem milagres pelos jovens obliteram-se com esta justificação?

Na verdade poucos países no mundo, talvez com a excepção da China, Cuba e a Coreia do Norte, têm uma estrutura de espaço aéreo tão amplamente controlada como é hoje a de Portugal!

Um planador (sem motor), um balão, ou melhor: qualquer aeronave que tenha uma falha nos motores ? como aconteceu no Canadá há alguns anos com uma aeronave comercial , que se salvou ao aterrar sem motores numa antiga pista desactivada ...mas não destruída -, uma aeronave que tenha de aterrar de emergência por mudanças meteorológicas numa pista de recurso na qual se abriram ...como propõe alguém d aPJ ...em suma: vão morrer pessoas porque assim se facilita a vida à PJ? A autora cita um responsável da PJ dizendo, e cito: "Aquelas que não cumprirem os requisitos devem ser desactivadas, impedindo-se fisicamente a sua utilização",

Esta afirmação é ridícula!

Um avião ultra-ligeiro do tipo STOL consegue pousar a velocidades baixíssimas e em muito poucas dezenas de metros. Uma aeronave destas ? há centenas em Portugal e dezenas de milhares na Europa - pode utilizar qualquer campo agrícola: basta um simples reconhecimento ou informar por rádio as coordenadas GPS!

Donde para quê fechar pistas?

E os Helicópteros ...o que lhes fazemos, só voam os militares???

Impor planos de voo a todas as aeronaves? Como é possível a um planador ou a um balão, por exemplo, cumprir um plano de voo, ou sequer utilizar "transponders" (aparelhos que emitem por rádio a posição de uma aeronave ..inaplicáveis a estas aeronaves por não terem meios de gerar energia a bordo para alimentar esses aparelhos)?

Acaba-se, portanto, com os planadores e os balões por não poderem cumprir "planos de voo"?

E depois ...chega a vez dos Ultra-ligeiros, depois das asas delta depois dos parapentes com motor?

E como manter pistas quando Portugal, através do INAC, está a obrigar essas pistas a estruturarem-se como mini-aeroportos (obrigando a arame farpado, portões, Directores de Pista, guarda, etc. etc.)? Quantos orçamentos municipais vão aguentar esta situação?

Nenhuma economia pode hoje resistir a estas imposições brutais: por isso morre pouco a pouco a nossa aviação civil desportiva ? aquela mais estreitamente controlada pelo próprio INAC - ... e floresce a aviação Ultra-ligeira, os parapentes, as asas delta ...que conseguem sobreviver ao apetite controleiro de um sistema burocrático caduco e falido!

O que estamos a assistir em Portugal é um ataque cerrado à aviação civil desportiva vindo da parte de estruturas públicas que deveriam servir todos os interesses e não apenas os interesses comercias. Dirigido tecnicamente por antigos quadros de empresas comercias, profundamente ignorante do universo actual da aviação civil desportiva, o INAC esquece que não existe apenas para servir os interesses das companhias de aviação e das escolas comerciais.

É também escandalosa a progressiva expulsão das actividades civis, não comercias e desportivas, como aconteceu em aeródromos como o de Tires ou como assistimos, agora, em Évora. Estes são apenas dois exemplos, ainda por cima de aeródromos cujos terrenos foram cedidos pelos seus proprietários originais exactamente para o florescimento da aviação civil de interesses NÃO-COMERCIAIS!

Desde o ataque a Nova Iorque a aviação civil desportiva tem vivido dias negros. À conta do terrorismo os seguros dispararam. A ninguém parece ocorrer que um TIR carregado com toneladas de explosivos reduziria a escombros um estádio de futebol ...enquanto um avião desportivo nunca poderia meter a bordo mais de uma a duas centenas de kg a bordo. Mas atiça-se assim o ódio e foram os aviões civis e desportivos que foram impedidos de voar, aproximando-se, dos estádios de futebol durante o EURO!

Eis mais um capítulo da morte anunciada da aviação desportiva portuguesa e daqueles que, não sendo ricos, ainda sonham com o voo.

Lisboa, 14 de Março de 2005

José Aguiar
(PP; PPA, Instrutor de Planadores
Membro da CNVV-FPA, sócio do AeCP e do Aero Clube de Évora)
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PS: envio em anexo PDF com tomada de posição pública de quase 20 associações colectivas quanto ao que hoje está a suceder com uma das pistas fundamentais para a sua actividade: Évora!

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